Do fundo do Coração – O cerne da Comunicação Não-Violenta





Acho muito relevante poder falar a vocês sobre o que está por trás dos estudos que venho fazendo sobre a paz. Num desses momentos, na minha caminhada, encontrei Marshall B. Rosenberg, pelo meu caminho ao caminhar.

Nossos caminhos se cruzaram não pessoalmente, mas através do seu livro, que tem o mesmo nome. Assim, ao conhecer o seu trabalho, encontrei a possibilidade e a ponte para muitas propostas de construção de paz que já vinha desenhando junto a projetos de valores e a Rede Crescer Desenvolvimento Humano, que faço parte e sou idealizadora. Hoje estamos falando um pool de empresários e profissionais liberais, que acreditam que juntos nós podemos fazer um mundo diferente e mais compassivo.

Gosto de falar sobre minha jornada do viver, pois isso define o sentido de ter estudado e me dedicado tanto a conhecer e aprofundar o método da CNV – Comunicação Não Violenta. 
Comecei minha jornada consciente de desenvolvimento pessoal há́ mais de trinta anos, período que coincide com o nascimento dos meus filhos e das necessidades absurdas surgidas com esta fase. Além desses fatores, ainda havia as mudanças estruturais de trabalho em Gestão de RH  e a jornada de quem está iniciando uma carreira em uma grande empresa.
Lembro, antes disso, que meu foco era apenas em resultados, estudos e trabalho, o qual vinha através de competências e do poder de influência que eu imaginava ter em uma função de gerente de RH na época. Eu sobrepunha minhas ideias às dos outros e não sabia como isso era prejudicial. Sempre tive espírito de liderança e precisei aprender a sobreviver neste mundo corporativo sendo mulher, mãe, e querendo ser competente em ambos os lados.
Quando conheci Marshall Rosenberg, ele me ajudou a perceber que eu tinha sido “abduzida pelo poder do lobo” (metáfora usada para falar da atuação que fazemos neste aprendizado de olhar só para o capital).  Hoje,  em uma jornada de maior consciência, tenho me cercado de “Girafas” (metáfora usada também por Marshall, para descrever pessoas que têm um coração grande e um pescoço longo para observar uma realidade ampliada). São pessoas como o Jéferson Cappellari, autor do livro que me acompanha nos cursos, ratifica e amorosamente me mostra, pela consciência,  como posso fazer diferente. Ele nem sabe o quanto já me inspirou!
 Durante minha jornada de desenvolvimento pessoal e profissional, conheci várias ferramentas que me ajudaram a evoluir, desde as de Qualidade Total a gerenciadores de projetos e o Coach e mentoring nos últimos dez anos,  mas a Comunicação Não Violenta - (CNV) ganhou destaque, pois fui aprendendo que precisava amadurecer meu corpo emocional e isto pega exatamente na competência que esta ferramenta mais desenvolve.
Boa parte dos conflitos que temos com outras pessoas podem ser causados pela forma como expomos nossas ideias e, às vezes, queremos empurrar nossa verdade para cima do outro. A CNV nos diz que os conflitos ocorrem em nível de estratégias e crenças, e quando estamos focados nos valores e necessidades, temos conexão emocional e os conflitos desaparecem. De acordo com o psicólogo Marshall Rosenberg a Comunicação Não-Violenta (CNV) é capaz de estimular a compaixão e a empatia (também por isso chamada de Comunicação Empática), porque nos distanciamos da disputa do ganha-perde ou perde-ganha, para entrar em outro espaço de consciência, em que as necessidades e os valores de todos envolvidos importam.

A CNV nos influencia, gera um filtro do que está vivo em nós e nos alerta, tratando de manter a humanidade nas relações. Durante um diálogo, o foco está no atendimento das necessidades profundas de ambos, ou seja, “usar a consciência amorosa da Girafa”.
Minha grande descoberta com a CNV foi que o tom de voz pode tornar uma conversa que poderia ser amistosa em violenta. Falar alto ou rispidamente pode denotar imposição de poder, e assim o outro resiste. Outra forma de tornar nossas relações miseráveis é o uso do julgamento e da punição, como também é possível comunicar de maneira que o outro se sinta culpado, envergonhado pelos seus atos: “Você deixa a vovó muito triste ao não arrumar o teu quarto!” Aprendi que na linguagem do Lobo, o idioma do Lobês, usamos a “mensagem Você”, ou seja, “Você me deixa”, enquanto da Girafa a mensagem é de autoresponsabilidade, em que usamos a “mensagem EU”, “Eu me sinto triste” e não “Você me deixa triste!”.  Note a diferença. Daí a pergunta: quantas vezes será́ que já́ fizemos isso sem nos dar conta?
A CNV, nos esclarece que qualquer ação que temos no dia-a-dia, visa garantir que alguma necessidade nossa seja atendida, por vezes inconsciente, pois não fazemos nada na vida que não seja para atender necessidades. E as necessidades do outro? Seria muito arriscado falar em ser humano integral, em transpessoalidade e ao mesmo tempo sair “cortando pedaços dos outros”, nos relacionamentos, porque é mais ou menos isso que fazemos. E é assim que se sente quem não tem seu sentimento respeitado e entendido.
Desse modo, cada pessoa que esteja disposta a modificar sua forma de comunicação pode promover mudanças incríveis ao seu redor, em seu círculo familiar, profissional ou social, através de atos de acolhimento das necessidades do outro. Aprendemos com a CNV a traduzir uma comunicação agressiva, cínica, raivosa e irônica em necessidades não atendidas. Sim, por detrás dessas expressões trágicas, há necessidades humanas clamando para serem atendidas. Olha que legal!

Nossa natureza não é de conflito, por isso não gostamos de estar em constante atrito com os outros. Por isso, a Lei das Necessidades revela que, por traz destes comportamentos, existem dores muito grandes, as quais a pessoa tenta mascarar ou quando as revela faz por meio da irritação e da raiva.

Um dos mandamentos mais importantes da CNV é aquele que diz: exercite sua capacidade de se expressar sem julgamentos e sem avaliação, sem dicotômica de “certo” e “errado”, que busca “vencer” um debate com o interlocutor e provar o seu ponto de vista. Tal comportamento nos leva ao mais alto estágio de inteligência humana, que é: Observar todo o comportamento humano sem julgar. Pense no desafio! O bom disso é que é plenamente possível alcançar este estágio de consciência.

A Escuta ativa é uma outra habilidade que a CNV nos oportuniza. Lamentavelmente, não fomos treinados para tal tarefa. Somos hábeis em falar e inábeis em escutar. Às vezes, não ouvimos a opinião do outro para compreendê-la, mas apenas para contra-argumentar, tornando a conversa um duelo sem fim entre homens e mulheres, para ver quem tem razão. Bem, talvez seja assim desde o tempo das cavernas.

A Comunicação não-violenta nos diz que, ao invés de acusar o outro por atos com os quais não concordamos, precisamos fazer algo mais poderoso que isso: expressar como estamos nos sentindo diante dos fatos e dos comportamentos do outro. Ao ser chamado de violento, egoísta ou agressivo, o outro tende a se defender, justificar-se ou culpar fatos/agentes externos. Mas, se dissermos que ficamos tristes, angustiados ou irritados diante da certa atitude, mostramos para o outro a nossa humanidade, a nossa vulnerabilidade, porque informamos como estamos nos sentindo em função de suas ações. Quando expressamos nossos sentimentos, possibilitamos uma aproximação, conexão. Ao explicarmos o que sentimos, oportunizamos ao outro rever suas atitudes que não estão contribuindo com nosso bem-estar, além de abrir espaço na conversa para que ele fale sobre as emoções e quais os motivos que o levaram a praticar certas condutas.

Pode parecer, à primeira vista, que a CNV nos leve a nos calar diante de ofensas ou agressões, mas é justamente o contrário: ela é totalmente fundada na comunicação honesta e transparente, que não se limita aos fatos analisados sob a nossa ótica (ex.: “você me deixou esperando por horas!”), mas foca nos sentimentos (ex.: “Eu me senti desapontado quando você não apareceu”). Trata-se de uma comunicação mais eficaz do que a acusatória, que devolve ao outro todo o nosso ressentimento, e também do que aquela que se cala passivamente, que nos sufoca nos nossos próprios rancores.

Usar o princípio da comunicação não violenta, por vezes, é uma tarefa desafiadora, porque vai precisar de nós um investimento na força de vontade em aprender uma nova língua, na disposição e no desejo de se auto-aperfeiçoar, como também compreender por uma outra ótica as relações que desenvolvemos em nossa vida diariamente. Digo que é um saboroso e duro o desafio, um exercício constante de autocuidado e auto observação. Falo por experiência própria – Vale a pena.

Desde que conheci a CNV, passei a testar os passos quando estava diante aos conflitos, principalmente no melhor laboratório para a prática – a família. A conexão foi tão assertiva que me entusiasmei, e comecei me dedicar aos estudos com mais profundidade.
Hoje, venho trabalhando com o viés da CENV - Comunicação Emocional e Não Violenta, por entender que meu foco de trabalho está na contribuição do amadurecimento da condição emocional humana, do mais inconsciente e instintivo em nós, que é o réptil que coabita em nós, como diz Jeferson Capelari e que influi em mais de 90% dos comportamentos que usamos, aos mais refinados, que são as nossas conexões com as energias transcendentes da vida. E, como uma boa professora pesquisadora, venho testando seus resultados, até com meus netinhos. Eles estão amando!
Com este aprendizado, eu pude perceber que quando eu não utilizava a linguagem da Girafa, as conversas eram tensas, desconexas, duras e ásperas. Fui descobrindo que era muito mais difícil chegar a um resultado satisfatório, de plena conexão ao utilizar uma linguagem de nos desconecta da vida, e isso me afastava da alegria e da gratidão que tanto queria alcançar.
A CNV, como Marshall apresenta, tem quatro passos, que visam facilitar a implementação  deste sistema na nossa comunicação do dia a dia:

1º Passo: Observação – trazer à tona o fato, sem nenhum julgamento. É manter a discussão sobre o fato e não opiniões ou interpretação.

 2º Passo: Sentimento – dizer como você se sente em relação ao fato observado, usando a expressão “Eu me sinto...(escolhendo 1 ou mais sentimentos)!”
Considero esta é uma das partes mais desafiadoras, pois não estamos acostumados a nomear sentimentos ou simplesmente admiti-los, porque em nossa cultura violenta, expressar sentimentos é sinal de fraqueza humana. A CNV nos mostra que é justamente o contrário, é uma atitude de pessoas emocionalmente inteligentes, por isso expressar os sentimentos é tão essencial para humanizar nossas relações.
3º Passo: Necessidades – Nossos sentimentos são causados por necessidades não atendidas. Assim, qual a necessidade que precisamos atender que causa o sentimento identificado? Talvez a gente precise de respeito, apoio, atenção, amor, contato.

4 º Passo: Pedido – fazer um pedido específico para atender a esta nossa necessidade. De forma clara para que o outro entenda e possa cumprir.
Com os quatro elementos da CNV,  fica muito mais fácil negociar quando o pedido não pode ser cumprido pela outra parte ou, de alguma forma, fere uma ou mais necessidades. O cerne da conversa passa a ser a necessidade não atendida do outro e juntos podemos trabalhar para que ambos consigam se satisfazer.
Assim, nosso trabalho na Rede Crescer DH, a CENV, tem sido muito usada, principalmente em conversas inspiradoras, visando se conectar com a estratégia e posicionamento da empresa, na promoção de feedbacks e no alinhamento de expectativas de entrega. E temos os melhores motivos para celebrar, porque os resultados têm sido fantásticos. Digo isso porque os times de trabalhos em rede estão mais conectados. Estamos colocando em prática os acordos e passamos pelos conflitos de forma mais rápida, humanizada e,  porque não dizer, de forma mais amorosa.

Texto de Cleci Marchioro com colaboração de Jeferson Capelari!


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